Regra de Sahm, Carry Trades e Volatilidade dos Mercados


A semana que começou a 5 de agosto trouxe bastante volatilidade aos mercados de um modo geral, fruto de um conjunto de vários eventos, os quais relatamos aqui:

31/07/2024

  • O Banco do Japão anunciou o segundo aumento de taxa de juro de referência, aumentando em 25 pontos base para 0,25%. O anúncio levou a uma valorização do iene e das obrigações soberanas, e em contraste, uma forte perda de valor na bolsa japonesa, numa aparente redução de risco por parte dos investidores.
  • No mesmo dia, a Reserva Federal Americana anunciava que ia manter a taxa de juro de referência, o fed funds rate, inalterada em 5,25-5,50%, com o Presidente do banco a apresentar um discurso mais prudente, e indicando que o banco começava a ver sinais de abrandamento no emprego americano.

Estes dois factores em conjunto são relevantes devido a uma popular estratégia de investimento, denominada de carry trade, que passa por pedir emprestado numa moeda com taxas de juro baixas (neste caso, o iene japonês), e investir numa moeda com taxas de juro mais elevadas (neste caso, o dólar americano) ou em ativos com maior potencial de retorno.

Por esta altura, a maioria das empresas americanas já tinha reportado resultados para o segundo trimestre do ano, com o consenso a ser relativamente desapontante, e com algumas suscetibilidades no consumidor americano a começar a serem evidentes, o que levantou questões sobre se as expectativas dos investidores, refletidas na apreciação dos ativos de risco, estariam devidamente fundamentadas.

No entanto, os dados que sairiam no fim dessa semana viriam fundamentar estes receios.

02/08/2024

  • Os dados de emprego americano para o mês de julho mostravam um forte abrandamento na criação de emprego e no crescimento dos salários, bem como um aumento do desemprego para os 4,30%. Todos os dados mostravam uma deterioração do mercado laboral nos Estados Unidos, com os números a serem inclusive piores que as expectativas dos analistas.

O aumento do desemprego para os 4,30% viria também a despoletar a chamada Regra de Sahm. Este indicador, desenvolvido pela economista Claudia Sahm, indica que a uma economia poderá estar numa fase inicial de recessão quando a média móvel da taxa de desemprego dos últimos três meses está 0,50 pontos percentuais acima da média móvel mais baixa dos últimos 12 meses. Sempre que esta regra se verificou, a economia americana entrou em recessão. Com os dados de julho, esta fórmula excedia os 0,50 pontos percentuais, ficando em 0,53.

Todo este conjunto de fatores – menor retorno da estratégia carry trade; redução de lucros das empresas americanas devido a uma aparente fraqueza do consumidor americano; deterioração do mercado laboral americano - levou a fortes quedas nos principais mercados financeiros e a um aumento significativo de volatilidade. Biliões de dólares seriam perdidos das principais bolsas, com o S&P 500 a desvalorizar 5% no seu ponto mais baixo, e o Nasdaq 100 a ter movimentação semelhante. As obrigações do Tesouro valorizaram, com a yield a 10 anos a descer até aos 3,79%. Tudo isto mostrava um posicionamento mais defensivo por parte dos investidores, com as expectativas para cortes futuros de taxas por parte da Reserva Federal a mostrarem também um aumento do número de cortes esperados pelos investidores, com um corte de 50 pontos base esperados para a próxima reunião de setembro.

No entanto, algumas das movimentações aparentam ter sido reações algo exageradas por parte dos investidores, com a própria economista Claudia Sahm a comentar que acredita que os atuais dados de emprego não indicam necessariamente que a economia estará em recessão. Adicionalmente, o PIB dos Estados Unidos para o segundo trimestre também mostrou um forte aumento versus o primeiro trimestre, e com o processo de desinflação aparentemente no bom caminho, não é ainda neste momento óbvio se o ciclo de aumento de taxas de juro poderão levar a economia americana a entrar numa recessão, ou se a Reserva Federal vai ser bem sucedida no chamado soft landing, que consiste em trazer a inflação de volta para os 2% sem que isso implique uma recessão económica.

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